quarta-feira, 22 de abril de 2015

Pior ou melhor mãe?

DESABAFO DA PIOR MÃE DO MUNDO

DESABAFO DA PIOR MÃE DO MUNDO
Eu sou a pior mãe do mundo e, em algumas linhas, você também concordará comigo.
Antes de ser mãe eu sonhava com todo o projeto educacional, vocacional, nutricional e espiritual que eu daria aos meus filhos. Nunca dar vexames em supermercados; com 4 meses já iria para a escolinha para aprender a conviver em grupo; não comeria doce até os dois anos; brócolis, tomates e folhas verdes seriam a base do seu cardápio diário; e, nunca deixaria minha vida profissional, porque eu também precisaria viver! Este era o modelo de mãe perfeita que eu almejava ser.
Nove meses se passaram, e com o nascimento de um bebê também aconteceu o nascimento de uma pessoa que, outrora julgava saber tudo sobre o mundo. E, 1 ano e 10 meses depois esta mãe continua ser uma metamorfose ambulante...
Esta semana, conversando com uma pessoa, comentei que o Theo havia adoecido e que em meio a uma inapetência de três dias, não hesitei em dar qualquer coisa que ele aceitasse comer, dentre elas, o tão condenado nuggets. A pessoa torceu o nariz e discorreu sobre todos os tipos de substâncias inóspitas para o corpinho de uma criança (como se eu não soubesse...). Bem, eu só disse que um dia ela seria mãe! E, de boa, ela continuou a conversa com a pior mãe do mundo: a mãe do Theo.
Não tão contente, esta semana a pior mãe do mundo entendeu que seria o momento do seu filhinho iniciar na adaptação escolar. As melhores referências, as melhores escolas, as melhores teorias educacionais. Tudo, tudo, foi revisto! E lá foi o meu pequeno homem para o seu primeiro dia de aula. Dois dias depois uma febre acometeu o meu bebê e, a que qualquer noção de infectologia indique, nada teve a ver com o início da sua vida acadêmica. Porém, olhos e olhares apontaram para a pior mãe do mundo. E, pior que os olhos dos outros, os meus próprios me consumiram em dor, em punição, por tomar esta atitude.
Três dias depois, a febre não baixava. Era paracetamol, dipirona, ibuprofeno. O único alimento: o leitinho produzido pela pior mãe do mundo. Mas, num almoço qualquer, o menininho apontou para o congelador e disse “ete, ete”. Para quem sabe a língua “Theoses” sabe muito bem que isto significa sorvete.
Pensei em todos os conceitos que aprendi, tanto na minha vida antes de ser mãe como na vida profissional. Não pensei duas vezes... Ele ganhou o “ete”. Se lambuzou, deu risadinha, cantou musiquinhas e bateu palmas. Depois dessa atitude condenada, ele almoçou, brincou e dormiu. Febre? Não sei mais o que é isso!
Bem, de todas as dores que já vive sei que a pior é aquela causada pela impotência de não tirar uma tosse, febre, dor de um filho. Ser a melhor mãe talvez esteja longe do que vivo hoje. Talvez milênios além daquilo que vivo em comparação com o que os livros dizem.
Dar o nosso melhor é as vezes negar aquilo que julgamos ser o certo, mas significa usar o coração para pensar ou, não pensar.
Se ser a pior mãe do mundo é usar o bom senso, almejo um dia ser reconhecida pela pior de todas, mas receber como prêmio os olhinhos brilhantes de alguém que eu nunca imaginei amar tanto e de repente, ver a febre passar.



Aprendi a lição que o que faz de mim ser melhor ou pior é relativo; aprendi que ser a pior ou a melhor nada tem a ver com nuggets, miojo, sorvetes, partos, amamentação, escolinhas; tem tudo a ver com aquilo que está aqui dentro e que só o Theo pode sentir quando ouve as batidas do meu coração.




                                                                                                          Por Francine Rodrigues
                                                                                        Enfermeira Obstetra e mãe do Theo