sábado, 7 de maio de 2016

Relato de parto Domiciliar Pâmela mãe de Noah,

 
Parte 2: A LEOA
 
No final da tarde do dia 26, mais um toque. Desta vez com 6 centímetros de dilatação. Todos se animaram junto comigo e o ritmo começou a ficar mais intenso e contínuo. A evolução da dilatação era de aproximadamente 1 centímetro por hora até o momento do expulsivo.
A fase ativa vinha com tudo. Eu estava entrando na chamada “partolândia”. Não ouvia nem via mais nada. Um filme com muitas cenas se passava em minha cabeça. Eu queria entrar na piscina para ver se aliviava um pouco a dor, mas estava muito calor e não consegui ficar na água.


A Regina me orientou a pensar em um animal e me conectar com esse aspecto em mim. Eu tinha conhecimento de que em muitas tradições e culturas ancestrais chamado “animal de poder”desperta em nós nossos instintos mais selvagens, fundamentais para que o animal que existe em nós faça o trabalho que a natureza determina. Papel esse que o ser humano racional foi perdendo em seu caminho. Foi aí que me identifiquei com uma leoa. Com ela veio sensações que nunca havia experenciado antes. Me senti como esse animal, me senti como se meu habitat fosse uma selva e uma força sem precedentes tomou conta de mim. Me senti mamífera, selvagem e, acima de tudo, me senti mulher por inteira, a fêmea. Meus gritos na hora da contração vinham de um aspecto novo em mim e essa vocalização deixava claro que ali nascia não só mais uma, mas duas novas vidas. A transformação que vinha com aquela dor era imensa, eu podia sentir isso. Podia sentir o processo para a formação da MÃE. A ocitocina liberada pelo meu organismo deixava meu corpo com sensações que me levavam ao êxtase, juntamente com o sentimento de proteção que o meu parceiro me trazia e a segurança e tranquilidade que a equipe me passava. Nesse transbordar de hormônios e alguns minutos após o rompimento da minha bolsa, que às 23h26 minutos do dia 26/12/14, depois de mais de 27horas de trabalho de parto, contando a fase latente e a ativa e na posição de quatro membros no chão, sentindo-me plena, tomei nos braços o Noah, com 3,720kg e 51cm. Nosso amor maior nasceu com olhos abertos, maduro, no seu tempo, com toda a paciência e dedicação para que esse tempo fosse respeitado. Seus olhos espertos vieram direto ao meu peito, onde encontrou o seu abrigo pelas próximas horas, sentindo toda a receptividade do colostro cheio de vida. Nessa atmosfera, nossos olhos se encheram de lágrimas e ficou claro que aquele era o primeiro dia do resto de nossas vidas.
 
A recuperação do parto natural é incrível. No mesmo momento já me sentia incrivelmente bem, disposta e extasiada com o que acabara de acontecer. Giovan cortou o cordão umbilical assim que ele parou de pulsar. Foi um momento de muita emoção. E sem demorar muito a placenta também saiu.
 
Noah não sofreu nenhum procedimento pós- parto. Depois de cortar o cordão foi direto pro colo do pai que o colocou, com ajuda da Suzana, a primeira roupinha. Sem banho, sem colírio, sem aspiração, sem nada que fosse necessário em perfeitas condições, como foi o nosso caso, graças a Deus.
 
Aproveitei para tomar um banho. Me sentia muito bem e leve. Que sensação!! Agora sei porque existem mulheres que tem muitos filhos, que se viciam no parto. As sensações de parir são incríveis e não me restam dúvidaque o ato em si é divino.
O pós parto foi acompanhado de perto pela Giovanna e pela Suzana que me deram apoio total na amamentação, banho, dicas para usar o sling e outros detalhes importantes.
 
Essa experiência só se tornou possível e o seu resultado maravilhoso devido ao empoderamento meu e do meu companheiro. Muitas vezes escutamos muitas coisas negativas a respeito de tudo o que escolhemos fazer, mas isso não nos abalava nem um pouco. Pelo contrário, nos trouxe mais força para que tudo acontecesse bem e a nossa parte e influência na história toda realmente acontecesse. As mães precisam se informar mais.
 
Nem tudo o que é realizado pelo modelo vigente comum merece o nosso respeito e muito menos nossa aceitação. Infelizmente a realidade brasileira deixa a desejar, somos o campeão mundial das cesarianas e o pior, campeão mundial de cesarianas DESNECESSÁRIAS. Você, mulher e futura mamãe, pode tornar esse momento mágico, e fugir da escolha imposta por uma cirurgia com horário e local marcado, geralmente os que melhor atendem a necessidade do médico. Não somos contra as mães que fizeram uma cesariana eletiva, mas sim contra um sistema que banaliza e impõe esse procedimento, tirando da mulher mentalmente vulnerável à “autoridade” médica, a sua confiança para firmar a sua escolha. Muita gravidez perfeita termina em uma rápida cesariana sem a menor necessidade e isso é muito triste.
 
Se conecte com você mãe. Se conheça e descubra o seu poder. Espere a vontade do seu filho nascer. Tenha paciência. Tenha confiança.  Não permita que ninguém influencie nas suas escolhas pois você é a principal responsável pelo seu parto, desde que se informe, desde que se prepare para esse momento, adquira conhecimento e poder mental para SABER que você é muito mais capaz do que imagina. Desde que o mundo é mundo a mulher dá a luz, porque você seria diferente? Porque você não conseguiria? Não é o médico que faz seu parto, não é a parteira, não é a doula, É VOCÊ! Deixe seu corpo fazer o que ele sabe sem interferências. Afinal a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional!